Fundecitrus

Pragas e Doenças

Uma diversidade de pragas e doenças afeta a citricultura brasileira. Por meio de pesquisas, o Fundecitrus, em parceria com outras instituições, busca oferecer aos citricultores e à comunidade científica um material de referência para a identificação, prevenção e controle das pragas e doenças mais frequentes ou impactantes nas principais regiões produtoras de citros do país.

Leprose / Ácaro-da-leprose

Cancro cítrico

Morte Súbita dos Citros (MSC)

Pinta preta

Podridão floral

Bicho-furão

Moscas-das-frutas

Mosca-negra

Ortézia

Pulgões

Minador-dos-citros

Escama farinha

Ácaro-da-falsa-ferrugem

Ácaro-branco

Ácaros tetraniquídeos

Morte Súbita dos Citros (MSC)

A Morte Súbita dos Citros (MSC) é uma doença destrutiva e representa uma ameaça potencial à citricultura paulista e nacional, pois afeta laranjeiras-doces, tangerineiras Cravo e Ponkan, limeiraácida Tahiti, limeiraverde, limeira-da-Pérsia e tangeleiro Orlando enxertadas em porta-enxertos intolerantes, como limoeiros Cravo, Volkameriano e Rugoso. Esses porta-enxertos são utilizados na citricultura brasileira por serem mais tolerantes ao déficit hídrico (não necessitam de irrigação) e por proporcionarem precocidade, vigor e produtividade às plantas.

A doença recebeu o nome de Morte Súbita dos Citros porque, em determinadas condições — como alta carga de frutos na planta e clima seco no inverno pode levar ao colapso, secamento e morte das plantas afetadas em poucos dias. Em plantas com menor carga de frutos e em anos com menor déficit hídrico, as plantas doentes podem sobreviver, embora apresentem perda de vigor e redução no peso e na quantidade de frutos. Os frutos dessas plantas geralmente apresentam maior teor de sólidos solúveis (Brix) e acidez, mantendo relação Brix/acidez (ratio) e porcentagem de suco semelhantes às de frutos de plantas sadias. Esses danos são reflexos da redução da capacidade de absorção de água pelo sistema radicular reduzido das plantas afetadas.

A causa da doença ainda não foi confirmada. Dois vírus estão presentes na região endêmica e ocorrem em plantas sintomáticas: o vírus da tristeza dos citros (CTV – Citrus tristeza virus) e o vírus associado à MSC (CSDaV – Citrus Sudden Death associated virus). Ambos são eficientemente transmitidos por vetores aéreos. O afídeo mais eficiente como vetor do CTV é o Aphis citricida (nomenclatura atualizada de Toxoptera citricida). Os dois vírus também podem ser propagados via enxertia de borbulhas contaminadas. Por isso, a produção de mudas livres desses vírus também é uma prática importante para evitar a disseminação da doença.

Distribuição regional da MSC

Mapa SP

Municípios com incidência da MSC nos estados de São Paulo e Minas Gerais:

Altair – SP
Álvares Florence – SP
Bálsamo – SP
Barretos – SP
Bebedouro – SP
Cajobi – SP
Campina Verde – MG
Campo Florido – MG
Colômbia – SP
Comendador Gomes – MG
Conceição das Alagoas – MG
Cosmorama – SP
Embaúba – SP
Fronteira – MG
Frutal – MG
Guapiaçu – SP
Guaraci – SP
Ibirá – SP
Ipiguá – SP
Ituiutaba – MG
Macedônia – SP
Marcondésia  – SP
Meridiano – SP
Mirassolândia – SP
Monte Alegre de Minas – MG

Monte Azul Paulista – SP
Nova Granada – SP
Olímpia – SP
Onda Verde – SP
Orindiúva – SP
Palestina – SP
Paranapuã – SP
Parisi – SP
Paulo de Faria – SP
Pedranópolis – SP
Planura – MG
Prata – MG
Riolândia – SP
São Francisco de Sales – MG
São João das Duas Pontes – SP
São José do Rio Preto – SP
Severinia – SP
Tabapuã – SP
Tanabi – SP
Uberaba – MG
Uberlândia – MG
Uchôa – SP
Valentim Gentil – SP
Votuporanga – SP

A MSC foi identificada pela primeira vez no sul do Triângulo Mineiro em 2001 e, atualmente, está presente em cerca de 50 municípios do Triângulo Mineiro e das regiões Norte e Noroeste do estado de São Paulo. A área de ocorrência da doença se caracteriza por apresentar maiores déficits hídricos durante os meses de inverno. Até o momento, a MSC não foi relatada em outras regiões citrícolas do estado de São Paulo.

Novas plantas com sintomas podem aparecer durante todo o ano, e o aumento no número de plantas com sintomas varia bastante entre variedades, talhões e propriedades. Apesar dessa variabilidade, a evolução da MSC, a partir do aparecimento dos primeiros sintomas, pode ser rápida, atingindo entre 15% e 100% das plantas de laranja em um talhão no período de até dois anos.

Sintomas

Sintomas

Na maioria dos casos, os primeiros sintomas de MSC começam a se manifestar nos pomares a partir do terceiro e quarto ano após o plantio, quando as plantas começam a produzir frutos. Entretanto, já foram observados sintomas em plantas com pouco mais de um ano.

O sintoma característico da doença, que confirma seu diagnóstico, é a coloração amarela, tendendo ao alaranjado, que aparece na parte interna da casca do porta-enxerto, logo abaixo da zona de enxertia. Pode ser visível ao retirar a casca do tronco e raspar as suas camadas internas. A presença desse sintoma indica que os vasos do floema nessa regiãoresponsáveis pelo transporte dos produtos fotoassimilados das folhas, como os açúcares, até as raízes estão bloqueados ou degradados.

Perda de brilho MSC

Devido à falta de alimento proveniente da copa, o sistema radicular da planta se debilita, com redução do número de radicelas, o que reduz suas defesas contra pragas e patógenos secundários. As raízes e radicelas definham e apodrecem a partir de suas extremidades. Com o sistema radicular menor, não há absorção suficiente de nutrientes e água para a copa da planta. A irrigação das plantas com MSC não consegue amenizar os sintomas, pois o sistema radicular danificado não é capaz de absorver a água adequadamente.

O sintoma mais observado pelo citricultor no campo é a perda generalizada do brilho das folhas por toda a copa da planta, que passam a apresentar coloração pálida, com um verde menos intenso em comparação às folhas das plantas sadias. Geralmente, ocorre perda de turgidez, acompanhada de desfolha parcial — inicialmente e total, em estágios mais avançados.

Nas plantas afetadas, existe pouca brotação e ausência de brotações tanto no porta-enxerto quanto no interior da copa.

Amarelamento do tecido

O tempo entre o aparecimento dos primeiros sintomas e a morte da planta varia conforme a idade, a época do ano e a condição da carga de frutos. Esse tempo pode ser de poucas semanas em plantas com copa densa e grande quantidade de frutos no início do período chuvoso até vários meses ou mesmo anos, em plantas pouco enfolhadas e pouco carregadas. Quando ocorre a seca e morte repentina da planta, a maioria dos frutos permanece presa à copa da planta.

Informações

Diferenças entre MSC e outras doenças

Tristeza: Os sintomas de MSC observados na copa e raízes das plantas são muito semelhantes aos do declínio rápido (quick decline), causado pela tristeza dos citros em laranjeiras-doces enxertadas em laranjeira-azeda. No entanto, a tristeza não afeta laranjeiras enxertadas em limoeiros Cravo, Volkameriano e Rugoso’. Outra diferença é que, nas plantas com MSC, o amarelecimento da parte interna da casca do porta-enxerto se estende da zona de enxertia até as raízes, enquanto nas plantas com tristeza é observada uma linha estreita, necrosada ou amarelada e deprimida, restrita à região de união da copa com o porta-enxerto, podendo ser seguida de várias saliências no lenho correspondentes a perfurações na parte interna da casca do porta-enxerto abaixo da zona de enxertia (pinholing ou honeycombing).

Declínio: Plantas com declínio apresentam muitas brotações internas na copa e no porta-enxerto, não morrem repentinamente, não apresentam amarelecimento na parte interna da casca do porta-enxerto e não absorvem água quando esta é injetada no tronco.

Gomose: Plantas com gomose apresentam lesões e rachaduras no tronco, próximas ao solo, geralmente com exsudação de goma o que não ocorre na MSC. Nessas plantas, tanto a parte interna da casca quanto o lenho podem mostrar descoloração (amarelada ou marrom) na região da lesão. Já na MSC, o amarelecimento ocorre apenas na parte interna da casca do porta-enxerto. Os sintomas foliares da gomose geralmente são localizados na face da planta afetada, enquanto na MSC são generalizados por toda a copa.

Rubelose: Plantas com rubelose não apresentam amarelecimento na parte interna da casca do porta-enxerto. Os sintomas característicos incluem escamação e rachaduras cobertas por filamentos esbranquiçados (micélio do fungo) nas axilas, no tronco e nos ramos da copa. Os sintomas foliares de rubelose são mais setorizados e associados aos ramos afetados.

Morte da planta
Controle

Controle

Nas áreas com ocorrência da MSC, é preciso produzir e plantar mudas em porta-enxertos tolerantes, como as tangerineiras Cleópatra, Sunki Comum e Sunki BRS Tropical, o citrumeleiro Swingle, o ‘Flying Dragon, o Poncirus trifoliata e os citrandarins IAC 1710, IAC 1711, IAC 1697, Indio, San Diego e Riverside.

O citrumeleiro Swingle, o ‘Flying Dragon e o Poncirus trifoliata apresentam baixa tolerância à seca, enquanto as tangerineiras ‘Cleópatra’, Sunki Comum e Sunki BRS Tropical e os citrandarins IAC 1711, IAC 1697, Indio, San Diego e Riverside apresentam tolerância moderada. Por isso, as plantas enxertadas nesses porta-enxertos necessitam de irrigação para produzir na área de ocorrência da MSC. O porta-enxerto citrandarin IAC 1710 apresenta alta tolerância à seca. Pesquisas continuam em andamento para seleção de novos porta-enxertos que reúnam produtividade, tolerância ao déficit hídrico e à MSC.

Em pomares jovens, já estabelecidos em porta-enxertos intolerantes em regiões afetadas pela doença, uma alternativa é realizar a subenxertia com porta-enxertos tolerantes.

Subenxertia

Ao realizar a subenxertia com porta-enxerto tolerante à MSC, formam-se novas raízes que ajudam a nutrir a planta doente.

A escolha do porta-enxerto para subenxertia deve ser baseada na localização da propriedade, na capacidade de irrigação, na variedade em que será feita a subenxertia (para evitar incompatibilidade), na ocorrência de outras doenças (como gomose, declínio e CVC) e na disponibilidade do porta-enxerto. O citrumeleiro ‘Swingle’ tem se mostrado mais eficiente, por apresentar crescimento mais rápido do que as tangerineiras ‘Cleópatra’ e Sunki, embora seja incompatível com a laranjeira Pera.

A subenxertia é recomendada para pomares com até seis anos de idade e em boas condições sanitárias. Quanto mais nova a planta, maior a eficácia da técnica. O melhor período para a realização do procedimento é o das chuvas (de setembro a março), pois facilita tanto a operação quanto o desenvolvimento do subenxerto.

Independentemente da idade da planta, é recomendado usar ao menos dois cavalinhos, um de cada lado do tronco.

Alguns citricultores adotam a subenxertia como medida preventiva, mesmo em regiões ainda não afetadas. Em pomares contaminados, árvores doentes podem ser recuperadas, desde que não estejam com sintomas avançados e não sejam muito velhas.

Passo a passo:

1 – Fazer duas covas o mais próximo possível do tronco, seguindo a direção da linha de plantio;

2 – Adubar cada cova com 50 g de superfosfato simples;

3 – Plantar os cavalinhos de modo que não ultrapassem 10° de inclinação em relação ao tronco da planta quando subenxertar. Se ficar muito inclinado, haverá brotações que podem prejudicar o pegamento da enxertia;

4 – Os cavalinhos devem ter entre cinco e oito meses, aproximadamente 45 cm de altura e estar maduros (lenhoso) na altura da enxertia;

5 – Fazer um corte em “T” invertido (5 cm x 3 cm), de 5 a 10 cm acima da enxertia original;

6 – Realizar o corte em bisel (2 cm) na ponta do cavalinho, descascando a parte a ser encostada no lenho, no tamanho correspondente ao T (5 cm);

7 – Levantar com cuidado um lado da casca e colocar a ponta do cavalinho dentro do corte, centralizando a acomodando bem o porta-enxerto;

8 – Fixar e proteger a subenxertia com fita plástica, enrolando-a de baixo para cima e deixando-a bem apertada, de modo a evitar a entrada de água ou o secamento dos tecidos;

9 – Regar bem;

10 – Retirar a fita plástica cerca de 30 dias após o pegamento.