Fundecitrus

Pragas e Doenças

Uma diversidade de pragas e doenças afeta a citricultura brasileira. Por meio de pesquisas, o Fundecitrus, em parceria com outras instituições, busca oferecer aos citricultores e à comunidade científica um material de referência para a identificação, prevenção e controle das pragas e doenças mais frequentes ou impactantes nas principais regiões produtoras de citros do país.

Leprose / Ácaro-da-leprose

Cancro cítrico

Morte Súbita dos Citros (MSC)

Pinta preta

Podridão floral

Bicho-furão

Moscas-das-frutas

Mosca-negra

Ortézia

Pulgões

Minador-dos-citros

Escama farinha

Ácaro-da-falsa-ferrugem

Ácaro-branco

Ácaros tetraniquídeos

Cancro cítrico

O cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, afeta todas as espécies e variedades de citros de importância comercial. Com origem na Ásia, a doença foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1957. Atualmente, possui ampla ocorrência nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em alguns municípios de Minas Gerais, Tocantins, Ceará e Roraima.

Os impactos da doença estão relacionados à desfolha de plantas, à depreciação da qualidade dos frutos devido às lesões, à restrição da comercialização para áreas livres da doença e à redução da produção, causada principalmente pela queda prematura dos frutos.

Identifique

Diagnóstico

Existem diversas metodologias empregadas para o diagnóstico de cancro cítrico. No entanto, em condições de campo, a doença geralmente pode ser confirmada em amostras de folhas, frutos e ramos apenas pelo reconhecimento dos sintomas típicos. Caso isso não seja possível, pode-se utilizar o teste sorológico, que é composto por uma pequena bolsa plástica com solução tampão e uma fita específica para detecção da bactéria causadora do cancro cítrico. 

Basta macerar parte ou toda a lesão dentro da bolsa com a solução tampão e inserir a fita. O resultado aparece em poucos minutos: duas linhas horizontais vermelhas indicam resultado positivo para a presença da bactéria, enquanto apenas a linha controle indica resultado negativo. Por não exigir infraestrutura ou treinamento específicos, essa ferramenta é de grande utilidade tanto em laboratórios quanto no campo, permitindo que o próprio produtor ou responsável técnico confirme, com segurança, a ocorrência da doença.

Sintomas

Sintomas

Os sintomas de cancro cítrico podem ocorrer em folhas, frutos e ramos. De modo geral, as lesões da doença são semelhantes nas diferentes partes da planta.

Folha: Os sintomas tornam-se visíveis de duas a cinco semanas após a infecção. Inicialmente, surgem pontos escurecidos, muitas vezes com amarelecimento ao redor, devido à multiplicação da bactéria e ao encharcamento do tecido vegetal. Os sintomas evoluem para pústulas de coloração marrom-clara.

As lesões são observadas primeiro na face inferior da folha. Com o progresso da doença, tornam-se maiores e podem atingir mais de um centímetro de diâmetro. Nessa fase, são circulares, salientes e visíveis em ambas as faces da folha. Apresentam, na maioria das vezes, halo amarelado evidente, embora possam ocorrer variações na intensidade do amarelecimento ou até ausência do halo. Algumas lesões podem apresentar bordas mais escuras.

Em ferimentos mecânicos ou provocados pelo minadordoscitros, as lesões apresentam textura e coloração semelhantes, mas com variação no formato e tamanho, resultado da penetração da bactéria em maior extensão do tecido das folhas. De modo geral, as brotações de plantas de laranja permanecem suscetíveis à infecção por um período de quatro a seis semanas.

Sintoma Folha Cancro

Fruto: É mais comum as lesões aparecerem na parte voltada para o exterior da copa das plantas, devido à maior exposição a chuvas e ventos fatores que favorecem a infecção. À medida que a área afetada aumenta, as lesões em frutos podem apresentar anéis circulares e rachaduras. 

Os frutos de laranja são suscetíveis durante os quatro primeiros meses após a queda de pétalas, até atingirem aproximadamente 5 cm de diâmetro. As lesões do cancro cítrico não afetam diretamente a qualidade da polpa dos frutos.

Sintoma no fruto

Ramo: Lesões do cancro cítrico em ramos são menos frequentes que nos demais órgãos, mas desempenham papel importante na sobrevivência da doença no pomar, pois permanecem na planta por vários anos. Essas lesões podem resultar em rachaduras, que levam ao ressecamento dos ramos e prejudicam o seu desenvolvimento, especialmente nos primeiros anos da planta. O cancro cítrico não provoca a morte das árvores doentes.

Sintoma Ramo Cancro
Ciclo

Ciclo

O ciclo do cancro cítrico é composto por quatro fases principais, relacionadas à chegada da bactéria no pomar, ao dano às plantas e à continuidade da doença na área. Conhecer o ciclo do cancro cítrico auxilia na adoção adequada das medidas de controle.

As fases sucessivas do ciclo do cancro cítrico e suas principais características são:

Disseminação: Consiste no trânsito da bactéria de uma lesão previamente formada para plantas sadias ou para outras partes sadias de uma planta anteriormente afetada. Essa disseminação pode ocorrer por meio da água da chuva, ação humana, máquinas, ferramentas, equipamentos, mudas, materiais de colheita e vestuário infestados. O cancro cítrico não é disseminado por insetos.

O fator ambiental mais importante nessa fase é a água, que serve como veículo de transporte da bactéria. A disseminação por respingos de chuva ocorre principalmente dentro da própria planta e entre plantas vizinhas. Já chuvas acompanhadas de vento podem transportar a bactéria por distâncias de até alguns quilômetros a partir da árvore afetada.

Infecção: Ocorre quando a bactéria penetra na planta por aberturas naturais, como estômatos, ou por ferimentos causados por equipamentos, atrito entre partes da própria planta, abrasão por poeira ou por insetos, como o minadordoscitros. 

A existência de ferimentos aumenta significativamente as chances de infecção. A água livre na superfície da planta é essencial para que a infecção ocorra com sucesso.

Colonização: Trata-se do início da doença, é nesta fase em que os sintomas aparecem. O cancro cítrico não é uma doença sistêmica. As bactérias se multiplicam localmente apenas no ponto que penetram no tecido vegetal vivo, de onde liberam enzimas que degradam as células das plantas para obtenção de nutrientes. O rompimento dessas células confere ao tecido vegetal um aspecto escurecido e encharcado, formando lesões necróticas.

A colonização ocorre de forma radial a partir do ponto de infecção, com a bactéria permanecendo ativa nas bordas das lesões. O fator ambiental mais importante nesta fase é a temperatura, sendo o intervalo de 25 °C a 35 °C o mais favorável à multiplicação da bactéria.

Sobrevivência: Lesões remanescentes de cancro cítrico existentes na planta de um ano para outro são a principal forma de continuidade da bactéria no pomar. Quando essas lesões são molhadas, a bactéria nada para o filme de água presente na superfície da planta, possibilitando sua disseminação e reinício do ciclo.

A bactéria não possui hospedeiros alternativos aos citros, não possui estruturas especializadas de sobrevivência (como esporos) e não é transmitida por insetos. Nesta fase, não há um fator ambiental determinante: a sobrevivência da bactéria depende da permanência de lesões velhas na planta.

A sobrevivência da bactéria fora das plantas cítricas é bastante limitada: pode durar apenas algumas horas em superfícies secas, expostas à luz solar e altas temperaturas, ou até alguns meses em lesões presentes em restos de cultura em decomposição.

Controle

Controle

De acordo com a nova legislação federal, a Instrução Normativa nº 21, de 25/04/2018 (IN 21), que substituiu a IN 37, de 05/09/2016, as estratégias de controle do cancro cítrico a serem adotadas dependem do status fitossanitário da doença na área:

1. Área sem ocorrência: Estados do país onde a ausência do cancro cítrico foi constatada por levantamento fitossanitário de detecção, ou seja, onde a doença não ocorre. Nesses territórios, as medidas de controle são focadas na prevenção da entrada do cancro cítrico, como o monitoramento do trânsito de material vegetal e plantio de mudas sadias.

2. Área Livre da Praga (ALP): Área delimitada em que o cancro cítrico não ocorre, podendo estar inserida em um território de maior amplitude com ocorrência da doença. Nessas áreas, as medidas de controle também são focadas na prevenção da entrada do cancro cítrico, por meio do controle do trânsito de material vegetal e uso de mudas sadias.

3. Área sob erradicação: Área onde o cancro cítrico ocorre com distribuição restrita ou em baixa incidência, em estado onde a doença está presente. Nesses casos, o controle do cancro cítrico é feito principalmente com o plantio de mudas sadias e a eliminação de plantas cítricas contaminadas e daquelas suspeitas de contaminação.

4. Área sob Sistema de Mitigação de Risco (SMR): Área onde a incidência do cancro cítrico é intermediária ou alta, e a erradicação de plantas doentes não é mais uma alternativa viável. Nesses casos, o controle é realizado pela adoção de um conjunto de medidas de manejo que visam reduzir o impacto da doença sobre a produção. Além disso, frutas in natura destinadas a áreas fora da zona homologada sob o Sistema de Mitigação de Risco (SMR) devem ser previamente beneficiadas e higienizadas em unidades de consolidação, a fim de prevenir a disseminação da doença.

Estado de São Paulo: No estado de São Paulo, conforme a Resolução da Secretaria de Agricultura e Abastecimento10, de 20/02/2017 (Resolução SAA 10), a estratégia oficial de controle adotada desde 2017 é o SMR. A mitigação de risco permite que o citricultor mantenha em seus pomares plantas com sintomas do cancro cítrico. Com isso, as ações que antes se concentravam na inspeção e eliminação de plantas doentes passaram a focar na adoção de medidas de manejo da doença e descontaminação de frutos. O objetivo é minimizar tanto as perdas no campo e nas unidades de beneficiamento quanto os riscos de comercialização de frutos com sintomas da doença. 

A IN 21 possibilita também que propriedades sem ocorrência do cancro cítrico localizadas em área sob SMR possam ser cadastradas com essa distinção, permitindo que seus frutos possam ser colhidos para comercialização sem a necessidade de vistoria prévia para habilitação da colheita pelo órgão estadual de defesa. No estado de São Paulo, os critérios para o atendimento dessa demanda foram estabelecidos pela Portaria CDA-5, de 20/05/2019.

Indústria: Pomares cuja produção é destinada à indústria de suco não precisam ser inscritos no SMR. Frutos destinados à produção de suco dentro do estado em que foram colhidos dispensam a necessidade de higienização e triagem em unidade de beneficiamento antes de serem processados. O cancro cítrico não afeta diretamente a qualidade do suco, mas pode reduzir a produção pela queda prematura dos frutos. Mesmo nesses casos, os produtores de fruta para a indústria devem empregar as mesmas medidas de manejo integrado da doença previstas no SMR. Além disso, não devem dispensar os cuidados com o transporte da fruta, como a cobertura apropriada da carga para evitar a dispersão involuntária de frutos possivelmente contaminados com a bactéria causadora do cancro cítrico.

Fruta da mesa: Pomares destinados à produção de frutas de mesa para envio a outros estados ou países devem aderir ao SMR. Em termos gerais, isso exige a inscrição dos pomares e unidades de consolidação no SMR, a adoção de medidas de manejo da doença durante o ciclo de cultivo, a liberação para colheita de pomares com níveis mínimos de frutos sintomáticos e o beneficiamento dos frutos em unidades de consolidação (UC) com estrutura adequada para descontaminação e detecção de frutos sintomáticos eventualmente colhidos. Esses pomares devem ser monitorados durante todo o processo por um responsável técnico (RT) e auditados pelo órgão estadual de defesa sanitária, a fim de evitar a comercialização de lotes com frutos sintomáticos e o rechaço de cargas de frutos exportados. Para frutos de mesa produzidos e comercializados dentro do estado, não há necessidade de passar por UC, porém, a comercialização de frutos com sintomas de cancro cítrico não é permitida.

Medidas de controle

Medidas de controle

Mudas sadias: As mudas são um meio muito rápido e eficiente de disseminação do cancro cítrico. Pomares jovens são mais vulneráveis ao cancro cítrico, devido à presença abundante de brotações suscetíveis à infecção. Por isso, a aquisição de mudas de citros certificadas, produzidas em viveiros registrados pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), é a primeira medida de controle para a formação de um pomar saudável e para evitar a rápida disseminação da doença nos pomares do estado.

Variedade/Espécie: O uso de plantas resistentes ou menos suscetíveis ao cancro cítrico é a medida de controle de menor custo e de maior eficiência, podendo dispensar ou reduzir a adoção de medidas de controle complementares. Embora todas as espécies e variedades comerciais de citros possam ser afetadas pelo cancro cítrico, existem diferenças significativas de suscetibilidade entre elas.

Quebra-vento: É uma medida essencial em pomares que produzem frutas para mesa. Quando a fruta é destinada à produção de suco, o uso de quebra-ventos torna-se especialmente importante em pomares com variedades mais suscetíveis ao cancro cítrico ou localizados em regiões de topografia acidentada, com alta incidência de ventos. 

As barreiras de quebra-vento são plantadas nos limites da propriedade e também entre talhões. Os quebra-ventos não devem formar uma barreira compacta, mas sim permeável. É recomendado colocar os quebra-ventos perpendicularmente à direção dos ventos predominantes ou em sistemas de compartimentação. O espaçamento entre as linhas de quebra-vento pode variar de 100 a 400 metros. 

O ideal é que sejam instalados antes ou junto com o plantio do pomar, para oferecer proteção nos primeiros anos das plantas de citros, quando estas são mais suscetíveis ao cancro. As árvores atuam como obstáculos naturais, reduzindo a velocidade das rajadas de vento e, consequentemente, a capacidade de disseminação da bactéria do cancro cítrico por gotas de chuva, além de minimizar ferimentos nas folhas causados pela abrasão de partículas de poeira e pelo atrito entre galhos — fatores que facilitam a entrada da bactéria. 

A espécie Corymbia torelliana é a mais indicada para as condições do estado de São Paulo. Casuarina cunninghamiana também é uma opção como quebra-vento; no entanto, a morte de plantas de casuarina devido à infestação de brocas no sul do Brasil, Argentina e Uruguai tem desencorajado seu uso como quebra-vento.

Cobre: A aplicação de cobre não impede a entrada da bactéria no pomar, mas ajuda a reduzir a quantidade de sintomas nas plantas e a queda de frutos. Os produtos usados são à base de cobre fixo, como oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso. Esses compostos apresentam baixa solubilidade em água e, por isso, proporcionam efeito residual na planta. Quando aplicados, os bactericidas formam uma camada protetora que age preventivamente, evitando novas infeções em folhas e frutos jovens. 

Em pomares mais jovens, com seis a oito anos após a implantação, a dose de cobre pode ser determinada com base no volume de copa das plantas. Após esse período, a dose pode ser padronizada por hectare. Em ambas as situações, a quantidade de cobre metálico pode ser ajustada de acordo com a frequência de aplicação, que pode variar para se adequar ao manejo de outras doenças ou pragas, ou para intensificar o controle. Dessa forma, as aplicações devem ser feitas a cada 21 dias, utilizando 40 mg de cobre metálico/m³ de copa das plantas, até a dose máxima de 1 kg de cobre metálico/ha. Se o intervalo de aplicação for de 14 dias, pode-se utilizar 30 mg de cobre metálico/m³, até atingir a dose máxima de 0,7 kg/ha. A utilização desse programa permite a redução de até 56% na quantidade de cobre metálico aplicada por hectare ao ano, em relação ao uso não otimizado do produto, sem comprometer a eficiência do controle.

O volume de calda também pode ser definido com base no volume de copa das plantas. Nesse caso, recomenda-se a aplicação de 40 a 70 mL/m³ de copa, com velocidade de trabalho entre 4,5 e 5,5 km/h. A utilização de volumes maiores não aumenta a eficiência do controle, enquanto volumes menores podem impactar negativamente. A qualidade da pulverização poder ser avaliada em campo por meio de papéis hidrossensíveis. O ideal é que a cobertura interna nas plantas, especialmente nas proximidades do tronco, seja de pelo menos 30%.

Em pomares jovens que ainda não estão em produção, as aplicações devem ser realizadas regularmente durante a primavera e o verão. Já em pomares em produção, as aplicações devem ser realizadas até que os frutos atinjam aproximadamente 50 mm de diâmetro. Após essa fase, as aplicações devem ser retomadas apenas em períodos de brotações. Em pomares com múltiplas floradas, as aplicações devem ocorrer regularmente durante a primavera, verão e, caso necessário, no início do outono. Aplicações entre maio e agosto são, em geral, dispensáveis, devido à baixa ocorrência de chuvas e à ausência ou baixa quantidade de folhas e frutos jovens.

Controle do minador-dos-citros: O minadordoscitros (Phyllocnistis citrella) é um inseto que causa ferimentos nas plantas, principalmente nas brotações, facilitando a entrada da bactéria do cancro cítrico. O controle desse inseto deve ser feito preventivamente, com inseticidas à base de abamectina, durante os períodos de brotação. Inseticidas neonicotinoides, normalmente utilizados para o controle de Diaphorina citri em plantas com até três anos, também promovem o controle de adultos do minador.

Medidas complementares: O controle do acesso de pessoas e veículos aos pomares, a instalação de bins, a desinfestação de equipamentos e máquinas, e a realização de inspeções nos pomares também são importantes para prevenir ou reduzir a disseminação do cancro cítrico entre diferentes talhões ou propriedades.

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Mais informações

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