Leprose
A leprose é uma das principais doenças da citricultura, atingindo principalmente laranjeiras-doces e, com menor intensidade, algumas tangerinas. É causada principalmente pelo vírus Citrus leprosis virus do tipo citoplasmático (CiLV-C), transmitido pelo ácaro Brevipalpus yothersi, podendo causar perdas de produção e redução da vida útil da árvore debilitada.
A doença atinge regiões tropicais e subtropicais, sendo restrita às Américas. Há casos relatados na América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela e Colômbia), na América Central (Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Belize e Honduras) e na América do Norte (México).
No Brasil, a leprose foi identificada em 1933, no estado de São Paulo, onde ocorre de forma endêmica, e já foi relatada em quase todos os estados produtores de citros. Em São Paulo, a maior incidência da doença e seus danos são observados nas regiões Noroeste, Norte e Centro, onde as temperaturas mais altas e os períodos prolongados de déficit hídrico favorecem a reprodução do ácaro vetor.

Sintomas
Os sintomas de leprose são restritos ao local de alimentação do ácaro e aparecem entre 15 e 30 dias após a transmissão. Eles ocorrem nas laranjeiras e em algumas tangerineiras. Limoeiros, limeiras–ácidas e tangor ‘Murcott’, apesar de serem hospedeiros do ácaro-da-leprose, são resistentes ao vírus e não mostram sintomas.
Em folhas, surgem manchas cloróticas circulares, lisas, com ou sem anéis concêntricos necróticos, geralmente próximas às nervuras nas superfícies abaxial e adaxial. Estas lesões podem atingir de 1 a 3 cm de diâmetro e, quando em grande quantidade, causam a queda da folha.

Nos ramos verdes, as lesões iniciais são circulares e amareladas, tornando-se, com o passar do tempo, corticosas, salientes, de cor marrom-avermelhada. Em estágio mais avançado, as lesões coalescem, secam e causam a ruptura da casca, podendo levar à seca e morte do ramo.

Nos frutos verdes, são observadas lesões necróticas circulares, lisas ou deprimidas, com 5 a 12 mm de diâmetro, ocasionalmente com rachaduras centrais e halo amarelo ao redor. À medida que o fruto amadurece, as lesões se tornam mais escuras e deprimidas, e o halo pode se tornar verde. A presença de várias lesões, principalmente próximas ao pedúnculo, provoca a queda prematura dos frutos.
Em plantas severamente atacadas, a leprose causa intensa desfolha, seca de ramos e queda prematura de frutos, reduzindo drasticamente a produção e a longevidade da planta.


Controle
O controle da leprose é baseado em medidas de redução das fontes do vírus e da população do ácaro no pomar. É indicado:
1. Aquisição de mudas sadias, livres de ácaros e do vírus para o plantio;
2.Utilização de quebra-ventos com espécies não hospedeiras do ácaro (como Pinus e Corymbia torelliana) para reduzir sua entrada no pomar e disseminação pelo vento;
3. Lavagem e desinfestação dos materiais de colheita para evitar a introdução do ácaro contaminado em áreas livres;
4. Eliminação de plantas daninhas hospedeiras do ácaro e do vírus, como a trapoeraba;
5. Colheita prioritária dos talhões sem o ácaro e a doença antes dos talhões com histórico de contaminação para reduzir a disseminação do ácaro e do vírus;
6. Colheita antecipada e retirada de todos os frutos da planta, evitando frutos remanescentes que favorecem a multiplicação do ácaro;
7. Controle da verrugose e do minador-dos-citros, cujas lesões servem de abrigo ao ácaro;
8. Poda dos ramos afetados durante o inverno ou, em casos de lesões generalizadas na copa, poda drástica das plantas, deixando apenas as pernadas principais ou secundárias;
9. Controle com acaricidas químicos ou biológicos.
O controle do ácaro com acaricidas deve ser baseado no monitoramento de sua população, que deve ser realizado no mínimo quinzenalmente. A recomendação é que sejam amostradas 2% das plantas do talhão. Em cada planta, devem ser amostrados dois a cinco frutos internos à copa e de dois a cinco ramos jovens externos, dependendo da carga de frutos. Os frutos amostrados devem apresentar alguma irregularidade na casca. Com o auxílio de uma lupa de bolso, conta-se o número de ácaros presentes (excetos ovos). O nível de controle a ser adotado pode variar de 1% a 5% de frutos e/ou ramos com a presença do ácaro. No entanto, um nível de ação ≤ 3% deve ser usado quando a região for muito favorável à multiplicação do ácaro, já houver plantas com sintomas no talhão, houver dificuldade de aplicação imediata do acaricida após a detecção do nível de ação ou a tolerância à doença for baixa.
A escolha dos acaricidas deve respeitar a lista ProteCitrus. Antes da aplicação dos defensivos, é importante solicitar a orientação de um agrônomo para conhecimento das doses corretas, regulagem e calibração dos equipamentos de pulverização, bem como para o uso correto dos equipamentos de proteção individual.
É essencial que seja realizada a rotação de acaricidas com diferentes modos de ação, evitando o uso sequencial do mesmo princípio ativo nas pulverizações no período de um ano, para que não haja seleção de ácaros resistentes ao acaricida.
Deve ser considerada a ação ovicida, larvicida ou adulticida dos acaricidas, misturando, quando necessário, um acaricida ovicida com um adulticida.
Evite misturar o acaricida com outros produtos no tanque de pulverização, pois isso pode reduzir sua eficiência de controle.
A pulverização deve ser feita de modo a obter uma boa cobertura (≥50%) e deposição do acaricida em toda a planta, tanto nas partes externas quanto internas. Para isso, deve-se utilizar gotas finas, com diâmetro mediano volumétrico de 150 a 200 micra, e volume de calda de 100 a 200 mL por m³ de copa.
Ácaro-da-leprose
O ácaro-da-leprose (Brevipalpus yothersi), da família Tenuipalpidae, é considerado a principal praga da citricultura brasileira por ser vetor do Citrus leprosis virus, causador da leprose dos citros.
Possui coloração avermelhada, corpo achatado, com duas manchas escuras no dorso, medindo cerca de 0,3 mm de comprimento por 0,18 mm de largura. É uma espécie polífaga, encontrada em diversas plantas cultivadas e não cultivadas. No estado de São Paulo, as maiores populações do ácaro-da-leprose são verificadas de maio a outubro, que corresponde ao período mais seco do ano.
Durante seu desenvolvimento biológico, o ácaro-da-leprose passa por quatro estágios imóveis (ovo, protocrisálida, deutocrisálida e telocrisálida) e quatro estágios ativos (larva, protoninfa, deutoninfa e adulto). O ciclo de ovo a adulto dura entre 21,8 e 24 dias em frutos de laranja-doce (Citrus sinensis ‘Natal’), a 23 ºC. Nessas condições, as fêmeas passam por um período de pré-oviposição de 2,7 a 3,5 dias, e ovipositam, em média, 21 ovos ao longo de 25 dias de sua longevidade. A viabilidade dos ovos é superior a 97%.
Pesquisas comprovaram que não há transmissão transovariana do vírus da leprose, ou seja, o ácaro não nasce contaminado. Ele se torna vetor apenas após alimentar-se do tecido da planta com a presença do vírus. Estudos indicaram que a transmissão do CiLV-C pelo ácaro-da-leprose é do tipo persistente circulativa, em que o vírus circula no corpo do ácaro antes de ser inoculado na planta hospedeira.
O ácaro-da-leprose infesta todas as plantas cítricas cultivadas. Coloniza preferencialmente frutos com irregularidades na casca, provocadas por verrugose e lagartas, mas também pode ser encontrado em ramos em formação e folhas. Geralmente, o interior e o topo da copa das plantas hospedam a maior quantidade de ácaros, devido à dificuldade de controle nessas regiões.

Sintomas
Os sintomas decorrentes da alimentação do ácaro não são facilmente reconhecidos, devido ao seu baixo nível populacional na cultura. No entanto, os sintomas causados pela leprose são bem característicos.


Controle
A principal forma de manejo do ácaro e da doença é o controle químico com acaricidas, que deve ser realizado com base no monitoramento da população do ácaro-da-leprose.